sexta-feira, 19 de junho de 2015

#07 Inspiração singapuriana

Grande bolha brilhante
A Austrália foi o ponto de encontro de três grupos: GFP Índia, GFP China e GFP Japão. Os três programas centralizam suas visitas na Ásia, e o passo seguinte foi partirmos todos para o continente asiático, rumo à bolha chamada Singapura.
Essa cidade-Estado é um verdadeiro exemplo de urbanização aliada à vegetação natural. Construções incríveis, templos, hotéis suntuosos e verde, muito verde. Com uma população de aproximadamente 5,0 milhões de pessoas, cerca de 2,0 milhões nasceram em outras regiões.
A cidade/país recebe a denominação de bolha graças ao expressivo desenvolvimento frente a outras partes do continente. Alguns índices comparativos com outras duas grandes potências da região: a taxa de analfabetismo em Singapura é de 7,6%, enquanto que na Índia e China a mesma corresponde a 22,5% e 15,1%, respectivamente. O PIB per capita singapuriano é de USD 55,1 mil, e de USD 1,4 mil e USD 6,8 mil nas outras duas economias, respectivamente. O IDH de Singapura (o melhor da Ásia e 9° melhor do mundo) é de 0,90 (muito elevado), enquanto que o da Índia e China são de 0,58 (médio) e 0,71 (elevado), respectivamente. A nota Standard & Poor’s singapuriana equivale a AAA (estável), e a indiana e a chinesa estão no patamar BBB- (considerada positiva) e AA- (estável), respectivamente. Eu poderia discorrer sobre inúmeras outras variáveis que ilustram o diferencial de Singapura, mas provavelmente “bolha” é a que melhor define esse Estado-cidade.
Dia 1: chegada, rápido passeio pela cidade e acomodações.
Dia 2: excelentes reuniões nas instalações da ANZ, maior grupo financeiro da Nova Zelândia.
Na primeira hora, conversamos com John Baker, CEO da First Agricultural Holdings (1AG), holding de investimentos dedicada ao agronegócio asiático.
John questionou paradigmas até então amplamente aceitos, como a escassez de terra, afirmando que talvez leve alguns anos para que realmente comecemos a nos preocupar com a alocação desse recurso (potencial expansão na Rússia, Brasil e outros). A escassez iminente, cujos desdobramentos já estamos vivendo, estão na mão-de-obra especializada e água.
Dan feliz na ANZ
Tendo-se essa situação em mente, John discorreu sobre os rumos do agronegócio global. O produtor rural se vê inserido numa cadeia que, em sentido linear, teria à sua esquerda algumas (grandes) empresas de insumos agrícolas, e à sua direita algumas (também grandes) traders. No meio, esse agricultor se soma a milhares de outros empreendimentos, pequenos, por sua vez. Falamos aqui de uma estrutura que John chamou de poucos-muitos-poucos, demonstrando a polarização do mercado em grandes companhias que dominam os extremos da cadeia de agronegócio.
Segundo John, caminhamos para uma realidade em que toda a cadeia de valor se resumirá numa grande propriedade. Exemplo disso seria a Apple (inevitável). As estimativas de 2015 apontam para um acúmulo de valor total da empresa que, se transformada num país, seria hoje a 9ª economia do mundo.
Consolidamos um sistema em que empresas se tornam maiores que sua própria indústria, e até maiores que países. A mais importante consequência dessa concentração talvez esteja na revolução da informação. Inevitavelmente, a maneira como recebemos informação mudará. Informação é o que direciona lucros, e essas mega empresas a possuirão.
Por isso, a estrutura poucos-muitos-poucos demanda do mercado uma organização meio Ricardiana. Produtores não devem concentrar seus esforços no lide com a valorização de terras, e muito menos com propriedade e manutenção de maquinário. Produtores devem priorizar a produção agrícola. Esta é a sua vantagem comparativa. Dessa forma, garantem autonomia e sobrevivência no mercado, enquanto as forças polarizadas continuam, inevitavelmente, a se fortalecer nos extremos.
Depois dessa fala um pouco assustadora (mas muito assertiva), John desconstruiu outro paradigma: o de que mercados consolidados proverão commodities a economias emergentes e grandes demandantes, como a China (e Índia, num futuro mais distante). Num verdadeiro plot twist, a 1AG prevê que a instalação de novos portos no sul do Vietnã, explorando o canal Kra Isthmus, ao sul da Tailândia, reduziria a distância entre a Malásia e a Tailândia em 2,0 mil km.
Isso aproximaria novos mercados, como a Rússia (autossuficiente em nutrientes, como NPK, e grande potencial de conversão de área) e a China, mais próximos do que dos tradicionais ofertantes, como Brasil e Estados Unidos.
Um provável acordo entre Rússia e China promoveria melhor distribuição de riscos de originação e reduziria custos, game change para os grandes players do agronegócio mundial. Para nós, brasileiros, se esse acordo se firmar e se não obtivermos melhorias consistentes no trato logístico, estamos fritos. O agronegócio atualmente move o PIB nacional, e a perda de sua competitividade traria graves consequências para a economia.
A apresentação de John foi excelente, com certeza um dos pontos altos do programa e cuja discussão reverberará por algum tempo entre nós.
Em seguida conversamos um pouco com o time da ANZ sobre futuro e tendências da Association of Southeast Asian Nations (ASEAN), bloco econômico no sudeste asiático que objetiva estimular o comércio de produtos e serviços entre os países membros e gerar condições de estabilidade política e econômica na região. Tem, além, um cunho de desenvolvimento cultural e social.
A ANZ acredita que na próxima década a ASEAN assumirá a posição de “nova fábrica asiática”. O que a globalização promoveu em grandes empresas na últimas décadas, derrubando fronteiras continentais e cosmopolizando processos produtivos rumo, principalmente, à China, está agora se repetindo em outros países asiáticos.
Enquanto muitas pessoas (como eu o fazia) pensam que grandes companhias ainda internacionalizam e transferem etapas de trabalho manual para a China, barateando custos de produção, a mão-de-obra chinesa é, atualmente, a mais cara do continente. O novos alvos são os países que margeiam o rio Mekong, um dos maiores do mundo: Camboja, Laos, Myanmar, Indonésia Vietnã e Tailândia. O investimento direto estrangeiro (IDE) hoje direcionado ao Mekong já é maior que o chinês.
Com grande potencial econômico e atenção de investidores de todo o mundo, o Mekong deve desenvolver três vetores básicos para estimular a geração de renda na Ásia, segundo a ANZ: demografia, urbanização e educação. Em 2020/25, significativa parcela da população asiática estará abaixo dos 30 anos de idade, o que se traduzirá em grande mercado consumidor. Para que essa demanda seja atendida, os eixos citados acima devem receber a devida atenção.
Em dez anos, estima-se que Indonésia, Camboja e Laos tenham a maior população economicamente ativa proporcional do mundo. Como consequência, observar-se-á um rápido crescimento de renda doméstica, ativando uma classe consumidora pela primeira vez na história da ASEAN.
A expansão da classe média e urbanização desses países gerará uma demanda crescente por alimentos, turismo e educação. Inúmeras novas oportunidades no horizonte...
No período da tarde, visitamos o incrível empreendimento Sky Greens, a primeira fazenda vertical do mundo. Com uma filosofia de soluções verdes em meios urbanos, a empresa produz até uma tonelada de vegetais diariamente, utilizando-se de mínimo consumo de água, energia e espaço.
Sky Greens
Dia 3: encontro com a equipe singapuriana da Syngenta e da Monsanto.
Discutimos com ambas o potencial de economias emergentes. 53% das vendas da Syngenta originaram desses países em 2014. A melhor performance se deu na América do Sul (ênfase ao Brasil). 80% do crescimento populacional atual também acontece nesses países. Acredita-se que em 2050 estes representem mais de 50% da demanda por alimentos.
Enquanto grandes propriedades representam cerca de 8,0 milhões dos estabelecimentos agrícolas em países em desenvolvimento, negócios de pequena escala somam mais de 450,0 milhões. Para atender a essa vasta classe, a Syngenta desenvolveu o chamado “The good growth plan”, um programa que visa, dentre vários objetivos, elevar a eficiência das principais culturas agrícolas mundiais em mais de 20% sem aumentar o consumo de água, terra e outros insumos.
As premissas são: mais biodiversidade e menos degradação, mais saúde e menos pobreza, mais alimento e menos desperdício e, principalmente, fortalecimento do pequeno produtor. A empresa está comprometida com mais de 20,0 milhões de produtores em todo o mundo, objetivando uma expansão média de produtividade em 50%.
Num futuro próximo, grandes complexos agropecuários esperam ter seu desempenho nivelado ao dos estabelecimentos pequenos, provando que podemos tornar o cultivo significativamente mais eficiente sem que tenhamos que usar mais recursos. Grande desafio para a iniciativa privada.
Syngenta
A visita ao país foi importante ao observarmos o que está sendo desenvolvido no continente para solucionar gargalos agrícolas e econômicos de países emergentes, além de aprender sobre seu potencial de crescimento. A bolha Singapura é força catalizadora de investimentos para a região, bolha de progresso e de mentes brilhantes e empreendedoras.
Depois de uma excelente introdução ao continente, é hora de partir para a gigante Índia.

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