sexta-feira, 19 de junho de 2015

#07 Inspiração singapuriana

Grande bolha brilhante
A Austrália foi o ponto de encontro de três grupos: GFP Índia, GFP China e GFP Japão. Os três programas centralizam suas visitas na Ásia, e o passo seguinte foi partirmos todos para o continente asiático, rumo à bolha chamada Singapura.
Essa cidade-Estado é um verdadeiro exemplo de urbanização aliada à vegetação natural. Construções incríveis, templos, hotéis suntuosos e verde, muito verde. Com uma população de aproximadamente 5,0 milhões de pessoas, cerca de 2,0 milhões nasceram em outras regiões.
A cidade/país recebe a denominação de bolha graças ao expressivo desenvolvimento frente a outras partes do continente. Alguns índices comparativos com outras duas grandes potências da região: a taxa de analfabetismo em Singapura é de 7,6%, enquanto que na Índia e China a mesma corresponde a 22,5% e 15,1%, respectivamente. O PIB per capita singapuriano é de USD 55,1 mil, e de USD 1,4 mil e USD 6,8 mil nas outras duas economias, respectivamente. O IDH de Singapura (o melhor da Ásia e 9° melhor do mundo) é de 0,90 (muito elevado), enquanto que o da Índia e China são de 0,58 (médio) e 0,71 (elevado), respectivamente. A nota Standard & Poor’s singapuriana equivale a AAA (estável), e a indiana e a chinesa estão no patamar BBB- (considerada positiva) e AA- (estável), respectivamente. Eu poderia discorrer sobre inúmeras outras variáveis que ilustram o diferencial de Singapura, mas provavelmente “bolha” é a que melhor define esse Estado-cidade.
Dia 1: chegada, rápido passeio pela cidade e acomodações.
Dia 2: excelentes reuniões nas instalações da ANZ, maior grupo financeiro da Nova Zelândia.
Na primeira hora, conversamos com John Baker, CEO da First Agricultural Holdings (1AG), holding de investimentos dedicada ao agronegócio asiático.
John questionou paradigmas até então amplamente aceitos, como a escassez de terra, afirmando que talvez leve alguns anos para que realmente comecemos a nos preocupar com a alocação desse recurso (potencial expansão na Rússia, Brasil e outros). A escassez iminente, cujos desdobramentos já estamos vivendo, estão na mão-de-obra especializada e água.
Dan feliz na ANZ
Tendo-se essa situação em mente, John discorreu sobre os rumos do agronegócio global. O produtor rural se vê inserido numa cadeia que, em sentido linear, teria à sua esquerda algumas (grandes) empresas de insumos agrícolas, e à sua direita algumas (também grandes) traders. No meio, esse agricultor se soma a milhares de outros empreendimentos, pequenos, por sua vez. Falamos aqui de uma estrutura que John chamou de poucos-muitos-poucos, demonstrando a polarização do mercado em grandes companhias que dominam os extremos da cadeia de agronegócio.
Segundo John, caminhamos para uma realidade em que toda a cadeia de valor se resumirá numa grande propriedade. Exemplo disso seria a Apple (inevitável). As estimativas de 2015 apontam para um acúmulo de valor total da empresa que, se transformada num país, seria hoje a 9ª economia do mundo.
Consolidamos um sistema em que empresas se tornam maiores que sua própria indústria, e até maiores que países. A mais importante consequência dessa concentração talvez esteja na revolução da informação. Inevitavelmente, a maneira como recebemos informação mudará. Informação é o que direciona lucros, e essas mega empresas a possuirão.
Por isso, a estrutura poucos-muitos-poucos demanda do mercado uma organização meio Ricardiana. Produtores não devem concentrar seus esforços no lide com a valorização de terras, e muito menos com propriedade e manutenção de maquinário. Produtores devem priorizar a produção agrícola. Esta é a sua vantagem comparativa. Dessa forma, garantem autonomia e sobrevivência no mercado, enquanto as forças polarizadas continuam, inevitavelmente, a se fortalecer nos extremos.
Depois dessa fala um pouco assustadora (mas muito assertiva), John desconstruiu outro paradigma: o de que mercados consolidados proverão commodities a economias emergentes e grandes demandantes, como a China (e Índia, num futuro mais distante). Num verdadeiro plot twist, a 1AG prevê que a instalação de novos portos no sul do Vietnã, explorando o canal Kra Isthmus, ao sul da Tailândia, reduziria a distância entre a Malásia e a Tailândia em 2,0 mil km.
Isso aproximaria novos mercados, como a Rússia (autossuficiente em nutrientes, como NPK, e grande potencial de conversão de área) e a China, mais próximos do que dos tradicionais ofertantes, como Brasil e Estados Unidos.
Um provável acordo entre Rússia e China promoveria melhor distribuição de riscos de originação e reduziria custos, game change para os grandes players do agronegócio mundial. Para nós, brasileiros, se esse acordo se firmar e se não obtivermos melhorias consistentes no trato logístico, estamos fritos. O agronegócio atualmente move o PIB nacional, e a perda de sua competitividade traria graves consequências para a economia.
A apresentação de John foi excelente, com certeza um dos pontos altos do programa e cuja discussão reverberará por algum tempo entre nós.
Em seguida conversamos um pouco com o time da ANZ sobre futuro e tendências da Association of Southeast Asian Nations (ASEAN), bloco econômico no sudeste asiático que objetiva estimular o comércio de produtos e serviços entre os países membros e gerar condições de estabilidade política e econômica na região. Tem, além, um cunho de desenvolvimento cultural e social.
A ANZ acredita que na próxima década a ASEAN assumirá a posição de “nova fábrica asiática”. O que a globalização promoveu em grandes empresas na últimas décadas, derrubando fronteiras continentais e cosmopolizando processos produtivos rumo, principalmente, à China, está agora se repetindo em outros países asiáticos.
Enquanto muitas pessoas (como eu o fazia) pensam que grandes companhias ainda internacionalizam e transferem etapas de trabalho manual para a China, barateando custos de produção, a mão-de-obra chinesa é, atualmente, a mais cara do continente. O novos alvos são os países que margeiam o rio Mekong, um dos maiores do mundo: Camboja, Laos, Myanmar, Indonésia Vietnã e Tailândia. O investimento direto estrangeiro (IDE) hoje direcionado ao Mekong já é maior que o chinês.
Com grande potencial econômico e atenção de investidores de todo o mundo, o Mekong deve desenvolver três vetores básicos para estimular a geração de renda na Ásia, segundo a ANZ: demografia, urbanização e educação. Em 2020/25, significativa parcela da população asiática estará abaixo dos 30 anos de idade, o que se traduzirá em grande mercado consumidor. Para que essa demanda seja atendida, os eixos citados acima devem receber a devida atenção.
Em dez anos, estima-se que Indonésia, Camboja e Laos tenham a maior população economicamente ativa proporcional do mundo. Como consequência, observar-se-á um rápido crescimento de renda doméstica, ativando uma classe consumidora pela primeira vez na história da ASEAN.
A expansão da classe média e urbanização desses países gerará uma demanda crescente por alimentos, turismo e educação. Inúmeras novas oportunidades no horizonte...
No período da tarde, visitamos o incrível empreendimento Sky Greens, a primeira fazenda vertical do mundo. Com uma filosofia de soluções verdes em meios urbanos, a empresa produz até uma tonelada de vegetais diariamente, utilizando-se de mínimo consumo de água, energia e espaço.
Sky Greens
Dia 3: encontro com a equipe singapuriana da Syngenta e da Monsanto.
Discutimos com ambas o potencial de economias emergentes. 53% das vendas da Syngenta originaram desses países em 2014. A melhor performance se deu na América do Sul (ênfase ao Brasil). 80% do crescimento populacional atual também acontece nesses países. Acredita-se que em 2050 estes representem mais de 50% da demanda por alimentos.
Enquanto grandes propriedades representam cerca de 8,0 milhões dos estabelecimentos agrícolas em países em desenvolvimento, negócios de pequena escala somam mais de 450,0 milhões. Para atender a essa vasta classe, a Syngenta desenvolveu o chamado “The good growth plan”, um programa que visa, dentre vários objetivos, elevar a eficiência das principais culturas agrícolas mundiais em mais de 20% sem aumentar o consumo de água, terra e outros insumos.
As premissas são: mais biodiversidade e menos degradação, mais saúde e menos pobreza, mais alimento e menos desperdício e, principalmente, fortalecimento do pequeno produtor. A empresa está comprometida com mais de 20,0 milhões de produtores em todo o mundo, objetivando uma expansão média de produtividade em 50%.
Num futuro próximo, grandes complexos agropecuários esperam ter seu desempenho nivelado ao dos estabelecimentos pequenos, provando que podemos tornar o cultivo significativamente mais eficiente sem que tenhamos que usar mais recursos. Grande desafio para a iniciativa privada.
Syngenta
A visita ao país foi importante ao observarmos o que está sendo desenvolvido no continente para solucionar gargalos agrícolas e econômicos de países emergentes, além de aprender sobre seu potencial de crescimento. A bolha Singapura é força catalizadora de investimentos para a região, bolha de progresso e de mentes brilhantes e empreendedoras.
Depois de uma excelente introdução ao continente, é hora de partir para a gigante Índia.

#07 Singaporean inspiration

Big bright bubble
Australia was the meeting point of three groups: India GFP, China GFP and Japan GFP. The programs are centered in Asia, and the next step was to leave to the continent towards the bubble called Singapore.
This city-State is a true example of urbanization combined with natural vegetation. Amazing buildings, temples, sumptuous hotels and much, much green. With a population of approximately 5.0 million people, about 2.0 million were born in other regions.
The city/country gets the bubble denomination thanks to the significant development compared to other Asian regions. Some comparative figures with two other great powers: the illiteracy rate in Singapore is 7.6%, while in India and China it corresponds to 22.5% and 15.1%, respectively. The Singaporean GDP per capita is USD 55.1 thousand, and USD 1.4 thousand and USD 6.8 thousand in the other two, respectively. The HDI of Singapore (Asia’s best and 9th in the world) is 0.90 (very high), while in India and China the numbers are 0.58 (average) and 0.71 (high), respectively. The Standard & Poor's Singaporean rate is equal to AAA (stable), and the Indian and the Chinese are BBB- (considered positive) and AA- (stable), respectively. I could talk about many other variables that illustrate the differential of Singapore, but probably "bubble" is what best describes this small country.
Day 1: Arrival, quick city tour and accommodation.
Day 2: excellent meetings in ANZ’s facilities, the largest financial group in New Zealand.
In the first hour we talked to John Baker, CEO of First Agricultural Holdings (1AG), investment holding company dedicated to the Asian agribusiness.
John questioned paradigms that are widely accepted, such as shortage of land, stating that it may take several years for us to really start worrying about the allocation of this resource (potential expansion in Russia, Brazil and others). The impending issues, whose consequences we are living, are on specialized workforce and water.
Happy Dan at ANZ
Having this in mind, John talked about global agribusiness directions. The farmer finds himself inserted in a chain that, in linear sense, would have on his left some (big) agricultural input companies, and to his right a few (also large) traders. In the middle, the millions of farmer run their own small/medium businesses. Here we talk about a structure that John called few-many-few, which demonstrates the market polarization in large companies.
According to the CEO, we walk to a reality in which entire value chains will come down on a single, large business group. An example would be Apple (inevitable). Estimates for 2015 point to an accumulation of generated value that, if put as a country, it would be the 9th world economy.
We have consolidated a system in which companies become larger than their own industry, and even larger than countries. The most important consequence of this concentration might come from an information revolution. The way we receive information will definitely change. Information is what drives profits, and these mega companies possesses it.
Therefore, the structure few-many-few demands a kind of Ricardian adjustment from the market. Producers should not focus their efforts on dealing with land valuation, or property and maintenance of machinery. Producers should prioritize agricultural production. That’s where their comparative advantage is. Therefore, they guarantee autonomy and survival in the business, while the polarized forces continue to inevitably strengthen the extremes.
After this little scary (but so assertive) reflection, John deconstructed another paradigm: that mature markets will always provide commodities to emerging economies, such as China (and India, in a more distant future). In a real plot twist, 1AG predicts that new ports in southern Vietnam, exploring the Kra Isthmus canal, south of Thailand, will reduce the distance between Malaysia and Thailand in 2.0 thousand km, approaching new markets like Russia (self-sufficient in nutrients such as NPK, and large area of ​​potential conversion) and China, close to that of traditional bidders such as Brazil and the United States.
A likely agreement between Russia and China would promote better distribution of origination risks and reduce costs, game change for major players in the global agribusiness. For us, Brazilians, there’s much to worry if this agreement gets firmed and if we don’t promote consistent improvements in the logistics tract. Agribusiness currently moves the national GDP, and the loss of competitiveness would bring serious consequences to our economy.
John's presentation was excellent, certainly one of the highlights of the program, a discussion that will reverberate for some time among us.
We then talked with the ANZ team on future trends and the Association of Southeast Asian Nations (ASEAN), economic bloc in Southeast Asia that aims to stimulate trade in goods and services between member countries and generate political and economic stability in the region. The organization has, in addition, a stamp of cultural and social development.
The ANZ believes that for the next ten years ASEAN will assume the position of "new Asian factory". What globalization promoted in large companies in recent decades, dropping continental borders and internationalizing production processes towards mainly China, is now being repeated in other Asian countries.
While many people (as I did) think that big companies still internationalize and transfer manual work steps in production to China, reducing costs, the hand-labor in the country is currently the most expensive of the continent. The aim now are countries that border the Mekong River, one of the world's largest: Cambodia, Laos, Myanmar, Vietnam, Indonesia and Thailand. The foreign direct investment (FDI) directed to the Mekong group is already larger than the one to China.
With great economic potential and attention of investors from around the world, the Mekong must develop three basic vectors to stimulate income generation in Asia, according to ANZ: demographics, urbanization and education. In 2020/25, a significant portion of the Asian population will be below 30 years of age, which is translated as a major consumer market. For this demand to be met, the axes mentioned above must receive the due attention.
In ten years, it is estimated that Indonesia, Cambodia and Laos will have the largest working population proportion in the world. As a consequence, note shall be the rapid growth of household income, enabling a significant expansion of the consumer class for the first time in ASEAN history.
The middle class and urbanization growth of these countries will generate increasing demand for food, tourism and education. Numerous new opportunities on the horizon...
In the afternoon we visited the incredible endeavor Sky Greens, the first vertical farm in the world. With a philosophy of green solutions in urban areas, the company produces up to a ton of vegetables daily, using minimal water consumption, energy and space.
Sky Greens
Day 3: meeting with the Singaporean team Syngenta and Monsanto.
We discussed with both the potential of emerging economies. In 2014, 53% of Syngenta sales originated in these countries, with best performance in South America (emphasis on Brazil). 80% of the current population growth also happens in those countries. It is believed that in 2050 they’ll represent more than 50% of the demand for food.
While large properties represent about 8.0 million agricultural establishments in developing countries, small-scale businesses total more than 450.0 million. To meet this large class, Syngenta developed the called "The good growth plan", a program that aims, among several objectives, to increase the efficiency of the world's agricultural crops by more than 20% without increasing the consumption of water, land and other inputs.
The assumptions are: more biodiversity and less degradation, better health and less poverty, more food and less waste, and strengthen of small producers. The company is committed to more than 20.0 million farmers around the world, aiming at a 50% productivity growth average.
In the near future, it is expected that the performance in big farmers be compared by small businesses, optimizing cultivation efficiency without increasing use of resources. Major challenge for the private sector.
Syngenta
Singapore was as important stop to look at what is being developed on the continent to resolve agricultural and economic bottlenecks from emerging countries, and learn about their growth potential. The bubble Singapore is a catalytic force of investment to the region, with bright and enterprising minds.
After an excellent introduction to the mainland, it's time to hit the giant India.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

#06 Aterrissando na Austrália

Terra distante
Tem início o GFP. Depois de tanta preparação e dias imaginando como seria essa volta ao mundo, ela finalmente começa a se delinear diante de nós. Primeira parada: Austrália, país que está a mais de 15 milhões km de distância do Brasil, mas que fala a mesma língua de paixão pela agropecuária e comprometimento das pessoas com o desenvolvimento do setor.
De extensão territorial de 7,7 milhões km² e população estimada de 23,8 milhões de pessoas (aproximadamente a população do estado de Minas Gerais, de “apenas” 586,5 mil km²), a Austrália faz mágica com menos de 5% de seu território próprio para cultivo e expressivas variações climáticas nos últimos anos. É uma grande produtora e exportadora de trigo, aveia, cevada, algodão, e figura-se entre os líderes globais na comercialização de carne bovina, estando tecnicamente empatada com o Brasil em terceiro lugar na exportação do produto (estimativa de 1,5 milhões de toneladas em 2015).
Além da relevância para a agropecuária mundial, o país figura-se como o epicentro de atividades da Nuffield. É um privilégio estar na terra onde tudo começou, e observar a construção e o poder de alcance da instituição em todo mundo, mesmo a mais de 15 milhões km, reverberando lá no Brasil.
Logo na chegada, me reuni à outra bolsista Holly Beckett e fomos recebidos pelos incríveis Wade Mann e Nicola Anne Mann. Nicky participou do programa de 2014 com a pesquisa “Intensifying Production and Output Through Protected Cropping Systems”, e nos deu vários direcionamentos em relação ao GFP e elaboração de nossos relatórios.
Ela e Wade são proprietários da Roses 2 Go, negócio de cultivo e distribuição de flores, em fase inicial de diversificação. A família Mann possui duas estufas de 3,0 mil m², com rosas e mirtilos em cada. A produção de rosas corresponde a 24 mil plantas, ou 60 mil buquês por ano, sendo 25% do total rosas vermelhas e 75% distribuído em variações de rosas amarelas, laranjas, rosas, brancas e outras.
Com a produção de mirtilo – ainda precoce –, a família espera alcançar 0,5 kg por planta no primeiro ano de venda, 2 kg por planta no segundo ano, 5 kg no terceiro ano e 10 kg por planta no quarto anos (e cinco seguintes a esse), desempenho só atingido graças à estrutura das estufas.
Segundo Wade, o maior desafio do negócio está na opção desprivilegiada das rosas. Como representam itens de luxo, não são priorizadas na cesta de consumo. Por isso, há a necessidade de se diversificar para adequar a Roses 2 Go às forças de mercado.
Agradeço ao Wade, Nicky e seus adoráveis filhos pela recepção calorosa, por me darem abrigo, por me mostrarem um pouco de sua rotina e pela gentileza em ceder sua própria casa. É muito bom se sentir acolhida do outro lado do mundo.
Querida Nicky na Roses 2 Go
No primeiro dia de junho fomos recebidos com um maravilhoso almoço pelo outro bolsista James Mifsud, sua esposa Frances e seus filhos. James é proprietário de uma fazenda de criação de perus e gado. São criados aproximadamente 16 mil perus por ciclo (22 semanas) distribuídos em seis galpões.
A criação de aves é extremamente eficiente e de produtividade linear. A busca por melhoria no desempenho agora está concentrada no pasto. O objetivo de James é reformar o perfil do solo nos 400 hectares onde cria cerca de 140 vacas. Grama de qualidade significa gado mais bem alimentado.
Já há alguns anos, o maior desafio do empreendimento está no lide com a American Society for Prevention of Cruelty to Animals (ASPCA), que promove o bem-estar dos animais e, aqui especificadamente, regula a qualidade da carne comercializada em última instância, ou seja, que imprime o selo que estampa a embalagem do produto nas gôndolas.
James alega que há um distanciamento entre as condições de controle exigidas pelo órgão e os critérios que realmente determinam o controle de produção. Os produtores relatam uma sensação de limitação, ou de perda de empoderamento de seu próprio negócio. O fundamento para a produção reduz a viabilidade do produtor de comercializar e diversificar seu próprio produto. O mais grave, entretanto, é que este selo imprime um esforço adicional para regularizar a carne vendida, e os gastos extras implicam em aumento de preço da mesma, sendo que o diferencial não é repassado aos produtores.
Esta é uma discussão delicada, já que ambas as partes têm fortes visões e argumentos de defesa, e James trabalha duro pela conciliação de interesses. Acho que o órgão não deve medir esforços na regulação do setor, mas tem a obrigação de estar próximo ao mesmo, e ter domínio de conhecimento da cadeia para que então tome decisões e imprima leis que o legitimem. É uma grande responsabilidade determinar o futuro de toda uma indústria.
James, Frances e sua família também me acolheram com grande carinho, e sou grata por sua bondade e atenção. Espero recebe-los tão bem quando me visitarem no Brasil (e que me visitem!).
A estada australiana durou três dias, sobre os quais discorrerei em detalhes as apresentações e visitas mais marcantes.
Dia 1: discussão com Hugh Maginnis, counsellor for agricultural affairs Australia and New Zealand, Ben Slatter, Delegation of EU to Australia Senior Adviser, Trade, Economic & Agriculture, Amy Tisdall, First Secretary of New Zealand High Commission Canberra e Tony Maher, Genreral Manager Policy, Trade and Economics for National Farmers Federation. Todos discutiram a relação entre a Austrália, seus países de origem e demais, sobre o potencial agrícola de suas economias e sobre o futuro das relações de mercado mundiais.
A fala de destaque, ao meu ver, esteve na apresentação de Hugh Maginnis. O conselheiro discorreu sobre a viabilização do acesso australiano na economia norte-americana e vice-versa, e sobre a atual situação agrícola estadunidense.
Nos últimos anos, observou-se uma queda de área no país destinada ao cultivo de trigo e algodão, e expansão de soja e milho, tendo como premissa o crescimento de produção de etanol e ração animal. O USDA alega que grande parte da demanda mundial potencial por esses grãos na próxima década será suprida pelos Estados Unidos. Considerando-se que o setor agropecuário do país já tenha atingido níveis ótimos (e, portanto, estáveis) de produtividade, e que a disponibilidade de área é limitante, questiono a afirmação de Hugh. O Brasil, apesar do grande gargalo logístico, tem atual capacidade para exportar o dobro do volume de milho que direciona aos portos (cerca de 20 milhões de toneladas). Somando-se a competitividade brasileira nesse sub-setor a toda a expectativa crescente na possível conversão de área russa, penso que talvez o órgão norte-americano esteja superestimando as previsões de ganho de mercado dos Estados Unidos.
Nos períodos da tarde e noite visitamos o Parlamento australiano sob guia de Ross Gough. Participamos do question time e pudemos observar o liberal e primeiro-ministro da Austrália Tony Abbott e outros ministros serem questionados sobre seu mandato por membros do parlamento. O esquivo às perguntas mais delicadas (sobre programas assistenciais, por exemplo) me fizeram refletir sobre essa tal de democracia. Seria democrático dar à população o direito de questionar seu governo, ou a democracia está, na verdade, no direito de a população de ter seus questionamentos respondidos com clareza e propostas de ação?
Nossa primeira reunião em Canberra
Dia 2: em momento reservado ao grupo GFP Índia, realizamos um teste de personalidade com o especialista Rob Patrick. O objetivo era identificar as principais características de cada integrante do grupo e explorar e desenvolver seus gatilhos e qualidades. Estaremos juntos por seis semanas, praticamente 24h por dia, vindo de países diferentes, culturas diferentes, línguas diferentes e com cabeças diferentes. É de extrema importância que aprendamos a identificar pontos de inflexão no lide diário, e os trabalhemos para que o aprendizado seja maximizado. Na mesma proporção, as qualidades pessoais devem ser exploradas em benefício do grupo.
Tenho a certeza de que podemos contar uns com os outros, e não poderia estar mais satisfeita com as pessoas com quem escolhi participar dessa jornada.
No período da tarde conversamos com Andrew Johnson sobre responsabilidades e o que significa ser um viajante nuffieldeiro. Foi ótimo ouvir a voz da experiência de quem já viveu tudo o que experimentaremos agora (Andrew foi bolsista no programa há cerca de dez anos) e que hoje ocupa o posto de nada mais, nada menos, do que chairman da Nuffield Austrália.
Em seguida, dedicamos algumas horas a conhecer um pouco mais sobre Canberra, com destaque à visita à National Gallery of Australia.
Conhecendo Bronwyn Bishop e Bruce Scott
Dia 3: de volta a Sydney, é hora de se despedir desse incrível país e se preparar para a imersão que segue nas semanas seguintes. Tantos eventos acontecidos e só estamos começando.
Rumo a Singapura!
Para mais informações e fotos, acesse as nossas páginas no Facebook:

#06 Landing in Australia

Far far away land
So the GFP begins. After so much preparation and days wondering about this world tour, it finally begins to outline before us. First stop: Australia, a country more than 15 million km away from Brazil, but which speaks the same language of passion for agriculture and commitment of people to the development of the sector. 
Of territorial extension of 7.7 million km², and an estimated population of 23.8 million people (roughly the population of Minas Gerais, "only" 586.5 thousand km²), Australia makes magic with less than 5% its territory suitable for cultivation and significant climatic changes in recent years. It is a major producer and exporter of wheat, oats, barley, cotton, and figures among global leaders in beef market, technically tied with Brazil in third place for meat exports (estimate 1.5 million tons in 2015). 
Besides the relevance to world agriculture, the country represents the epicenter of Nuffield activities. It is a privilege to be in the land where it all began, and observe the construction and power range of the institution in the world, even more than 15 million km away, there reverberating in Brazil. 
Upon arrival, I met the scholar Holly Beckett, and we both were greeted by the incredible Wade Mann and Nicola Anne Mann. Nicky participated in the 2014 program with the topic "Intensifying Production and Output Through Protected Cropping Systems", and gave us several directions relative to GFP and preparation of our reports. 
She and Wade are owners of Roses 2 Go, growing and distribution business of flowers, in early stage of diversification. The Mann family has two 3.0 thousand m² greenhouses with roses and blueberries. Roses production corresponds to 24.0 thousand plants, or 60.0 thousand bouquets a year, 25% of the total red roses and 75% distributed in variations of yellow roses, oranges, roses, white and others. 
With the production of blueberries, the family expects to reach 0.5 kg per plant in the first year of sales, 2 kg per plant in the second year, third year 5 kg/plant, and 10 kg per plant in four years (and five following this), performance only achieved thanks to the greenhouses structure. 
According to Wade, the biggest business challenge is in underprivileged option of roses. They represent luxury items, or are not prioritized in the consumption basket. This demands Roses 2 Go to diversify to attend market forces. 
I am grateful to Wade, Nicky and her lovely children for the warm reception, for giving me shelter and for showing me some of their routine. It's great to feel so welcomed across the world.
Dear Nicky at Roses 2 Go
On the first day of June we were greeted with a wonderful lunch by the other scholar James Mifsud, his wife Frances and their children. James and Frances own a turkey and cattle farm, as poultry as the main business, approximately 16.0 thousand birds per cycle (22 weeks), allocated in six sheds. 
The production is extremely efficient, with linear productivity. In search of performance improvement, the family now focuses on pasture. James goal is to reform the soil profile in their 400 hectares with 140 cows. Quality grass means cattle well fed. 
For some years, their biggest challenge has been dealing with the American Society for Prevention of Cruelty to Animals (ASPCA), which promotes animal welfare and, here specifically, regulates the quality of marketed beef, and prints the label that goes on the product packed to the shelves. 
James claims that there is a gap between control requirements by the agency and the criteria that really determine the production control. Producers reported a sense of limitation or loss of empowering their own business. The basis for the production reduces the viability of the producer to market and diversify his own product. The worst, however, is that this seal prints an extra effort to rectify the beef sold, and extra expenses imply price increase of the same, from which difference is not passed on to producers. 
This is a delicate discussion, since both parties have strong visions and defense arguments, and James works hard for the reconciliation of interests. I think the agency should spare no effort in the sector's regulation, but has an obligation to be close to it, and have chain domain knowledge to then take decisions and print laws that legitimize it. It is a great responsibility to determine the future of an entire industry. 
James, Frances and her family also welcomed me with great affection, and I am grateful for their kindness and attention. I hope to host them this well when they come and visit me in Brazil (please do that!). 
The group stayed in Australian for three days, on which I'll discuss in detail the most striking presentations and visits. 
Day 1: discussion with Hugh Maginnis, counselor for agricultural affairs Australia and New Zealand, Ben Slatter, Delegation of EU to Australia Senior Adviser, Trade, Economic & Agriculture, Amy Tisdall, First Secretary of New Zealand High Commission Canberra and Tony Maher, Genreral Manager Policy, Trade and Economics for National Farmers Federation. All discussed the relationship between Australia, their home countries and others on agricultural potential of their economies and the future of global market relations. 
The highlight, in my view, was the presentation of Hugh Maginnis. The counselor spoke about the viability of the Australian access in the US economy and vice versa, and the current US agricultural situation. 
In recent years, wheat and cotton area were nationally reduced, while soybean and corn expanded, taking as its premise the ethanol and animal feed production growth. The USDA claims that much of the demand potential for these grains in the next decade will be supplied by the United States. Considering that the countries’ agricultural sector has already reached optimum levels (and therefore stable) of yield, and that the availability of area is limiting, I question Hugh’s statement. Brazil, despite the major logistical bottleneck, has current capacity to export twice the amount of corn sent to ports (about 20 million tons). Adding Brazilian competitiveness on this sub-sector to the entire growing expectation on possible Russian area of ​​conversion, I think that perhaps the US agency might be overestimating the US market share gain forecasted. 
During the afternoon and evening we visited the Australian Parliament, on Ross Gough guide. We participated in the question time and watched the Liberal and prime minister of Australia Tony Abbott and other ministers to be asked about their mandate by members of parliament. The elusive to the most delicate questions (about assistance programs, for example) made me reflect on this such thing that is democracy. Giving people the democratic right to question their government can be called democracy, or, in fact, the right of people to have their questions answered clearly, with proposals for action is really what democracy means?
Our first meeting in Canberra
Day 2: on a morning spared just for the India group, the expert Rob Patrick conducted a personality test. The goal was to identify the main features of each member of the group and explore and develop their triggers and qualities. We'll be together for six weeks, almost 24 hours a day, coming from different countries, different cultures, different languages ​​and with different heads. It is extremely important that we learn to identify turning points in the daily deal, and work so that the learning is maximized. In the same proportion, the personal qualities should be exploited for the benefit of the group. 
I am sure we can count on each other, and I could not be more pleased with the people I’m doing this journey with. 
In the afternoon we talked with Andrew Johnson on responsibilities and what it means to be a nuffielder traveler. It was great to hear the voice of experience (Andrew was in the same program at about ten years ago) of someone that now ranks as the Chairman of Nuffield Australia. 
Then we devoted a few hours to learn a little more about Canberra, with a special visit to the National Gallery of Australia.
Meeting Bronwyn Bishop and Bruce Scott
Day 3: back to Sydney, it's time to say goodbye to this incredible country and get ready for an Asia immersion in the following weeks. So many events happened and we are just beginning.
Towards Singapore!
For more information and pictures, please access our pages on Facebook: